Mutações da Literatura no Século XXI

Oi vocês,

Eu tive a oportunidade de participar de uma palestra sobre as mutações da literatura no século XXI, ministrada pela crítica literária e professora emérita da USP, Leyla Perrone-Moisés e hoje vou falar um pouquinho do que aprendi por lá.

Foto: Ana Paula Lima. Bienal 2016

Nós sabemos da vitalidade da literatura na prática e podemos perceber que ela possui uma presença frágil na mídia e no ensino. 
Nunca se publicou tanto como ultimamente, mas podemos perceber que há a ‘literatura de consumo’, como os livros de youtubers por exemplo. 
Para que nossa estimada vertente possa avançar com qualidade, é preciso cuidar dela desde o ensino, ou seja, sempre incentivar nossas crianças a ler. A literatura é histórica e imutável, por isso não pode ser definida. 
Até o século XVIII, a modalidade era considerada o conjunto geral de obras, após isso, ficou classificada como o conjunto de obras no geral, ou seja, todas as obras publicadas na época sejam elas ficção ou periódicos. No período do século XIX, por causa da burguesia, a literatura mesmo com todo prestigio já conquistado, foi se tornando mais hermética.
Hoje, é visível a pouca valorização e até mesmo já fora cogitado o fim da modalidade pois ela foi diluída na prática. Há uma falta critérios na hora de se publicar uma obra. 

Foto:Ana Paula Lima

Para Leyla, isso acontece pois estamos vivendo “uma avalanche cultural” por causa da acessão do áudio visual fazendo com que a leitura perca espaço na vida do leitor. As séries e filmes acabam fazendo com que a população perca o poder da imaginação.
A leitura é muito mais ativa e participativa, pois além de trabalhar a imaginação, faz com que cada experiência pessoal torne o enredo mais crível individualmente. 
Claro que a internet entraria nesse debate, afinal, com sua chegada, ela interferiu no impacto das mensagens que um livro passava ao leitor. Estamos em uma época onde tudo é efêmero, conversas rápidas, ligações curtas e sucessos passageiros. Tudo o que é contrário à literatura, que necessita de tempo e concentração.

Foto: Ana Paula Lima

Outro tópico apontado foi a considerada “arte do espetáculo”. Leyla acredita que quando um autor dedica mais tempo “sendo celebridade” ele não consegue escrever boas obras.
Hoje, todo mundo quer ser autor, há “blogueiros escritores, youtuber escritores, jornalistas escritores” fazendo com que o número de obras publicadas sejam maiores do que o número de leitores para as mesmas.
Com esse crescimento no número de autores, fica clara a falta de domínio dos profissionais, seja ela na bagagem ou até mesmo na escrita. Você lembra quantos livros com erros ortográficos você já leu esse ano? 
A educadora acha interessante o fenômeno ‘youtubers’ e acredita que eles são e-escritores – aquele que escreve para um público online, com mensagens rápidas e pouco conteúdo.
Quando o assunto foi a democratização da cultura, a autora disse que muitas vezes democratizar é rebaixar e isso não é bom. A cultura, assim como a literatura, está disponível para todos, porém, ela possui níveis. Ou seja, ninguém começa ouvindo Tchaikovsky e gosta, é necessário ser inserido no cenário. Com a literatura é a mesma premissa, mas é preciso entender que nem todo livro vai funcionar contigo. Não precisa forçar ou se diminuir por não gostar de Guimarães Rosa ou Machado de Assis. Voltando para o assunto youtuber, é possível que alguém comece lendo o livro da Kéfera por exemplo e conheça outras obras com mais conteúdo e história.

Foto: Ana Paula Lima

E por último, não podemos deixar de citar, o papel do crítico literário no meio disso tudo. Essa função está automaticamente ligada aos níveis culturais. 
A partir do momento que você lê algo bom, sempre estará em busca de obras melhores que a anterior. Clichês são bons, mas quem não prefere uma obra diferente que sacode nossa vida e nos vira do avesso? E quando você vai em busca de obras que mexam contigo, você automaticamente estará subindo um nível cultural.
É preciso que fique claro que a literatura não é ‘o que’ e sim ‘o modo como’. Muitas vezes não importa o tema e sim, o modo como ele foi escrito e contado. 
A literatura necessita se manter viva, afinal, dentre todas as coisas que ela possa ser, é uma forma de crítica, reflexão e de conhecimento de nós mesmos, dos outros e do mundo.



E para finalizar esse post, a palestra aconteceu no Centro de Pesquisa e Formação do SESC. Leyla Perrone-Moisés é professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, autora de livros de crítica literária e já recebeu o Prêmio Fundação Bunge de 2013. Em 2016 ela lançou a obra “Mutações da Literatura no Século XXI" pela Cia. Das Letras.




Beijinhos,

20 comentários

  1. Excelente análise. Realmente, acredito que a literatura (principalmente a brasileira) está patinando na onda de sub-celebridades e enchendo as prateleiras de coisas ruins. E concordo sobre os e-escritores. Escrevem (quando escrevem) de forma rápida, uma linguagem acessível e um conteúdo vazio.
    Mas tudo isso talvez seja cíclico. Tivemos uma safra maravilhosa depois do modernismo em 1922 e agora estamos declinando. Talvez no fim do século.

    Grande Beijo.
    Hugo,
    Raposa Cultural

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  2. Concordo plenamente. Hoje em dia alguns autores quando vão escrever algo, pensam muito no que vai dar dinheiro e não no que o conteúdo pode proporcionar aos leitores. Assim como os livros feito por youtubers,não tenho nada contra quem gosta desse tipo de leitura, mas é como se fosse feito apenas para pessoas que não tem o costume de ler e que compram apenas porque conhecem o autor do youtube. Porém, ainda possuem muitos livros bons e autores maravilhosos e interessantes que para a nossa alegria e alívio não seguem esses padrões. E leitores apaixonados que se dedicam e que crescem a cada dia por meio da literatura.Ótimo post, gostaria de conhecer a sua professora Leyla um dia, bjss!

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  3. Nossa Ani deve ter sido uma palestra e tanto né?! Mas é isso aí mesmo, a língua está em constante mudança e adaptação, e obviamente isso se reflete inclusive na escrita. Escrever por escrever nem sempre rende os lucros desejados, assim como uma história muito bem escrita por de não ser aceita. O negócio é conhecer seu público e investir naquilo que os agrada.
    A postagem ficou excelente viu!!
    Bjs

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  4. Olá, tudo bem?

    É difícil falar sobre literatura boa ou ruim, sobre livros bons ou rins. As vezes um livro ruim pode trazer uma pessoa para o universo literário. Como você escreveu no texto que é a autora mencionou na palestra, esses livros podem trazer leitores que nunca se prestaram a ler antes, enfim, é bem complicado... mas eu adorei o texto e é reflexivo sobre o tema.

    Beijo.

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  5. Olá
    Nossa deve ter sido uma bela palestra, concordo com com essa parte do escrever para ficar famoso, ou por ser famoso, tipo os YouTubers já são famosos não precisam escrever livros, e muitas não escreveu é sim contratou alguém para escrever.
    Mas no geral se eles conseguirem transformar um terço de seus milhares de seguidores em leitores acho já é uma boa coisa

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  6. A palestra parece ter sido realmente esclarecedora! Adorei suas considerações. Infelizmente, hoje visa-se muito o retorno financeiro, nem podemos condenar editoras e autores por isso. Editoras são empresas, negócios, visam isso mesmo e os autores, para serem aceitos por elas tem de criar um publico e se tornar comercial se quiser certa visibilidade. A única forma de mudar um pouco esse quadro é a aquisição de livros de publicação independente que todo mundo torce o nariz e depois fica reclamando que as editoras malvadonas não trazem nada de novo... rs... Quem quer sempre acha alguma qualidade, isso se buscar nos lugares corretos... já achei preciosidade que nunca chegaram a ser destaque na Amazon e em site nenhum... simplesmente esquecidos! Então vale a pena sim garimpar e ajudar tbm a melhorar e desenvolver a nosso leitura, já que só quem é leitor e consumidor pode fazer toda essa situação mudar.

    Raíssa Nantes

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  7. Moça senti vontade de estar nessa palestra e ouvir as opniões da escritora. Eu concordo com a análise, realmente a literatura tem sofrido negligência, mas de certa forma quando pessoas que não leem compram um livro por serem de uma celebridade que amam, talvez eles criem gosto pela leitura e isso seja o engresso deles não universo de leitores. Então acho que tudo é válido para ganharmos novos leitores!

    MEMÓRIAS DE UMA LEITORA

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  8. Olá,

    Achei linda a análise e principalmente a consideração final de que a literatura deve se manter viva, mesmo com todas as suas mutações e variações de lugar a lugar. Além disso, é incrível a forma como ela marca momentos históricos, onde detalhes incrivelmente importantes são encontrados justamente nos livros.

    Abraços,
    Cá Entre Nós

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  9. Ani lindona parabéns pela postagem, achei muito interessante, acredito que hoje falte mesmo critério para as publicações por isso vemos muitas história com mesmo tema. Muito sensata a análise da palestrante. beijos

    Joyce
    Livros Encantos

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  10. Oi, Ani.
    Achei seu texto bem interessante, embora eu tenta a discordar da visão acadêmica da literatura. Já entrei em diversas discussões com os ditos eruditos da literatura e não me desce essa visão de "cultura superior" que eles tentam impor! rs...
    Livros são mecanismos de propagação do conhecimento, mas são também uma forma de lazer! Tentar diminuir um livro chamando-o de comercial é uma verdadeira bobagem! Ainda mais em um país como o nosso em que temos que dar graças quando nossos jovens pegam um livro! rs...
    beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  11. Concordo com as aspectos apontados. Eu tento respeitar todos os gostos e opiniões, mas confesso que para mim livro de Youtubers é a coisa mais ridícula que poderiam inventar. Gente é cada livro idiota deles que eu já vi. Só Jesus na causa. Mas enfim. Essa palestra deve ter sido muito interessante que bom que pode comparecer. Ótima matéria aninha.

    Beijão.

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  12. Olá linda,

    Eu li duas obras dessa autora na faculdade, mas meu xodó na Crítica Literária é o livro do C.S.Lewis <3.
    Literatura foi uma das vertentes das Artes que mais sofreu com o avanço das tecnologias e meios de comunicação, porque foi a escolhida a ser Democratizada...bem diferente das Artes Plásticas e alguns gêneros da Música que ficaram com seus níveis dentro de suas áreas.

    Nem todo mundo sabe o que é Literatura e respeita o trabalho enorme do que é produzir um livro que serve para informar e inflar dúvidas e questionamentos para os leitores. Aristóteles temia a Literatura, porque a mesma tem muito mais poder que a própria Filosofia.

    Hoje falar de processo de produção literária é quase que se jogar na "COVA DOS LEÕES",porque quem não conhece esse ramo das Artes dificilmente compreende que nem todo mundo tem perfil para escritor(a).

    Beijos!

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  13. Olá!

    Que palestra maravilhosa! Acho que aprendi mais nessa noite do que em toda a minha vida como leitora. Apesar de tudo o que a Literatura sofreu, ela ainda vive, e continuará vivendo, mas sempre adaptada à realidade da sociedade!

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  14. Olá, tudo bom?

    A palestra pelo visto foi muito boa né? Não sei muito de literatura mas aprendi bastante no seu post, suas considerações foram muito boas.

    Beijos:*

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  15. Achei bem interessante essa parte que diz que se a gente lê algo bom, estará sempre em busca de algo melhor que o anterior. Literatura pra mim precisa fazer sentido, li recentemente um livro que era bem diferente mas talvez até diferente em excesso... Rs... Só fazendo sentido uma obra realmente consegue mexer comigo. A palestra deve ter sido muito interessante.

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  16. Oii, tudo bem?
    Achei ótimo que tenha tocado no assunto, a nossa literatura tem mudado muito. Os livros de entretenimento tem ganhado mais espaços e eu acho isso muito bom, porque as pessoas tem que ler aquilo que elas querem e gostam. Eu iria adorar ter assistido a essa palestra.
    Amei o post, parabéns pelo blog maravilhoso.
    Abraços Mary

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  17. Muito bom ponto. A literatura brasileira está realmente escassa. Gostaria de ter participado dessa palestra, visto que é um tema de suma importância. Claro que, cada um tem direito de ler o que quiser, mas o ruim é que o conteúdo da obra, na maioria das vezes, é vazio ou bem simples. Achei muito boa sua análise.

    Beijos,
    Respire Literatura

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  18. Oiii Ani, tudo bem?
    Fazia tempo que não lia um livros desses e preciso desabafar, pode me julgar ou até mesmo me chamar no facebook para conversarmos, eu aprecio muito a nossa literatura nacional, mas sinto falta. Sinto falta de escritores como Machado, sinto falta da escrita deles, no momento em que a gente não entendia e tinha que pesquisar, sei que autores assim escreveram diversas obras e quem nunca iremos ler, mas seria muito bacana ter alguém que escreve assim e que não fosse tão moderno. Ótima publicação, está de parabéns.
    Beijinhos da Morgs!

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  19. Olá!
    Amei essa palestra, realmente queria ter tido a oportunidade de participar, já que no meu TCC irei falar um pouco sobre isso e estou louca para comprar esse livro dela. Parabéns por essa publicação super informativa, com certeza agregou muito ao seu blog.
    Beijos.

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  20. Oi Ani, sua linda, tudo bem?
    Nossa, nunca parei para refletir sobre isso antes. Adorei a palestra pelo o que você contou, gostaria que ela viesse na minha cidade também. Acho que o que estamos vendo nos livros é reflexo direto do que você mesma citou: hoje as informações estão prontas e são rápidas, não precisamos pensar e não nos incentivam a pensar. Uma pena.
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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