Jornalismo - Rúgbi em Cadeira de Rodas pode ajudar na recuperação de tetraplégicos

Esporte une homens e mulheres e prova que não existem barreiras para a superação. Brasil disputará a modalidade pela primeira vez na Paralímpiada de 2016.

Apesar de pouco conhecido, o Rúgbi adaptado surgiu na década de 70, no Canadá, e foi criado por atletas tetraplégicos como uma opção à pouca acessibilidade de esportes exclusivos para eles. No Brasil, a modalidade surgiu primeiramente em 2005, mas só se estruturou em 2008, quando foi criada a Associação Brasileira de Rúgbi em Cadeira de Rodas, no Rio de Janeiro, responsável pelo esporte no Brasil.

É inevitável estranhar e se perguntar como um esporte de contato como o Rúgbi pode ser disputado por pessoas que lesionaram a medula, mas, basta assistir a um jogo para se admirar com a modalidade.

Presos a uma cadeira blindada, os jogadores não medem esforços nos contatos. O objetivo do jogo é conduzir a bola até a linha de fundo do adversário. São quatro jogadores por equipe e, apesar de ser jogada por indivíduos com alto nível de comprometimento motor, é uma atividade muito dinâmica.

E assim como todas as modalidades paralímpicas, o rúgbi exige um critério de elegibilidade e classificação funcional. Para isso há uma banca, normalmente formada por profissionais da área de saúde, que após estudar o caso conseguem avaliar quais são os movimentos remanescentes e a força que a pessoa tem nesses movimentos. Cada modalidade tem a sua própria escala, que vai de 0.5 a 3.5.

Outra característica que diferencia o rúgbi nas demais modalidades é o fato de que ela é mista, ou seja, mulheres e homens podem jogar juntos. São sempre quatro jogadores que, juntos, somam oito pontos e a regra prevê que cada vez que uma mulher está em jogo, a equipe ganha meio ponto a mais.

Luis Fernando Cavalli, jogador da ADEACAMP – Associação de Esportes Adaptados de Campinas – e da Seleção Brasileira, sofreu um acidente em 2004, em fraturou a sétima vértebra cervical. Após a lesão, Luis foi apresentado a diversos esportes adaptados como auxílio à fisioterapia. “O Rúgbi é uma modalidade que é mais adequada ao meu tipo de deficiência, além de ser dinâmica e eu me sentir mais útil em quadra do que jogando handball ou tentando jogar basquete, eu gosto. Me dá muito prazer e, apesar de ser uma modalidade praticada por indivíduos com alto nível de comprometimento motor, ela é muito dinâmica e emocionante” comenta.

Por sua classe funcional, Luis joga como terceiro ou quarto homem, popularmente chamado de jogador de defesa e recebeu o prêmio de melhor atleta 1,0 da competição IV Aberto de Brasília, onde a ADEACAMP recebeu a medalha de bronze.

Equipe ADEACAMP IV Aberto de Brasília

Em dezembro acontecerá à terceira edição da Copa Caixa Loterias de Rúgbi em Cadeira de Rodas, em Niterói, e as seis principais equipes do país disputarão o prêmio. E no próximo ano, acontecerá a paralímpiada no Brasil onde Luis está na lista dos 23 pré-convocados para defender nosso país. “É a primeira vez que o Rúgbi em cadeira de rodas do Brasil vai participar da paralímpiada, por ser país-sede. Quem representará o Brasil ninguém sabe ainda, mas campeonatos como o IV Aberto de Brasília, Copa Caixa de Rúgbi em Cadeira de Rodas e semanas de treinamentos servem como forma de nos avaliar”.

Parapan Toronto

Para o atleta, a prática do esporte abriu uma série de portas, e mesmo com todas as características positivas, ainda é uma modalidade que sofre muito preconceito. “Eu sei que muitas pessoas enxergam o rúgbi como uma modalidade violenta, por causa das batidas e quedas, mas estou desde 2010 nisso e vi poucas lesões. A cadeira absorve o maior impacto. Existe muito respeito dentro de quadra e é difícil ver um jogador se exceder. Eu sinto que algumas instituições enxergam o rúgbi como um esporte nocivo, ainda mais por ser praticado por lesados medulares, mas acredito que isso é preconceito mesmo. Tenho certeza que as pessoas que passam a conhecer a modalidade passam a compreender melhor”.

Projetos como o Fundo de Investimento Esportivo de Campinas, Bolsa Atleta, do Governo Federal, Bolsa Talento do Estado de São Paulo e a Lei de Incentivo ao Esporte, ajudam na manutenção dos equipamentos e compras de uniformes, mas não é o suficiente. Luis acredita que a falta de diversos fatores impede o crescimento e patrocínio do esporte no país. “Eu acredito que precisamos de uma ação maior dessa parte da mídia para fortalecer o esporte. Foi a primeira vez, em 2015, que o rúgbi foi incluído na relação de modalidades Pan-americanas e a participação do Brasil no Parapan já mostrou o quanto esse quadro pode mudar com uma simples projeção da imprensa”.

Para ele, a vinculação de centro reabilitação ao esporte, como ocorre no exterior seria excelente para descoberta de novos talentos. “Às vezes o próprio centro de reabilitação já tem uma equipe de rúgbi em cadeira de rodas, normalmente esses centros são os primeiros focos que vão reunindo pessoas que tem uma deficiência que é elegível ao esporte. Seria uma forma de se trazer mais atletas para a modalidade. Sei que o rúgbi ainda é novo no país e que algumas coisas demandam tempo, mas acredito que ações da imprensa e de parcerias com centros de reabilitação, seriam dois caminhos que ajudariam muito no fomento da modalidade”.

Luis Fernando Cavalli. Atleta da ADEACAMP e Seleção Brasileira de Rúgbi Adaptado

Quando questionado o que aprendeu com acidente e o que diria ao Luis de 11 anos atrás, o atleta afirma que “eu nunca fui de pedir as coisas, de ficar esperando. Eu sempre tentei me virar sozinho e a deficiência me expõe. Isso pra mim tem sido uma grande lição. Aprendi a ser mais paciente, mais tolerante, entre outras coisas, mas o que fica bastante evidente é isso. Eu diria ao Luis do passado, para se ele importar menos com as coisas e que ele buscasse aproveitar mais seus relacionamentos, que hoje é uma necessidade no meu dia-a-dia”, finaliza.

Oi vocês,

Hoje o post foi um pouco diferente. Para quem ainda não sabe, eu estou no sexto semestre de jornalismo e uma das melhores coisas da vida são os trabalhos práticos. Eles me enchem de dor de cabeça, mas vê-los prontos me deixa extremamente orgulhosa e por isso estou aqui dividindo uma matéria de autoria minha (com ajuda da Kamila) sobre Rúgbi Adaptado. Conhecer o esporte foi um presente enorme para mim e espero que vocês tenham gostado de saber um pouco mais sobre ele.

Beijinhos,