Uma história de desamor

Essa não é uma historia de amor, mas sim do desamor. Não é o começo, mas sim o relato de um fim.



O ano passou rápido e de certa forma conturbado, tantas idas e vindas culminaram naquele momento de setembro. Eu estava naquele ônibus lotado de pessoas que não via os rostos, minha mente estava focado em apenas um e como iria reagir ao encontro.
Pela quarta vez não havia mais o nós, mas sim, o eu e você no singular, na singularidade de cada via onde as rotas não se cruzavam, não mais.
Atentei a voz eletrônica avisar do ponto. Desci, caminhei entre uma multidão, todos felizes e cantando estávamos indo ao maior festival do país, o Rock in Rio.
Todos cantando canções diversas, risadas e vozes altas. Mas em mim se mantinha uma mão suada e uma respiração falhada, eu não conseguia esconder o nervosismo, quase um ano sem te ver, apenas fotos em redes sociais, algumas mensagens trocadas e diversas vontades de dizer "volta". Todas afundadas no orgulho e na necessidade de não ceder e ter que passar por mais um "não".

De longe te vi, não tinha como não ver o corpo esguio, o andar peculiar e os cabelos vermelhos que balançavam em sintonia com o vento. Você veio em minha direção, eu senti o rosto aquecer e o coração batendo rápido e lento ao mesmo tempo.
- Oi - disse ao me cumprimentar com dois beijos nas bochechas.
Trocamos poucas palavras, como sentia falta da sua voz e do sotaque carioca. Encontramos alguns amigos nossos, e logo eu percebi que você ainda usava aquele pedaço de metal.
Ele possuía uma das frentes torcidas em um oito, o infinito, o nosso infinito. Era aquele o símbolo máximo de um amor enterrado a sete palmos, dilacerado pela distancia entre dois estados, o marco de algo puro e maculado que teve um fim.

Como? Como você ainda carregava aquele anel, há tempos o que pertencia a mim foi jogado em uma lata de lixo quando saí da faculdade carregando olhos pesados, vermelhos inundado de dor depois do último "acabou", mas você ainda carregava. Aquilo devia significar algo, precisava ser um sinal, uma forma não verbal de dizer que o nosso infinito ainda estava vivo. Eu acreditei nisso.
O caminho até os portões de entrada do festival era longo, pegamos mais um ônibus e uma caminhada de quinze minutos, durante o percurso fiquei distante de você, ao lado da minha amiga que a todo o momento me alertava "Não se iluda. Não crie expectativas. Você não sabe o que isso significa", porém, era tarde demais, eu já estava nos imaginando em nossa casa, nosso cachorro e os dois filhos que teríamos, era aquele futuro perfeito de novo inundando meu pensamento.

No final do festival torci para que você me olhasse, que me chamasse para conversar, mas nada foi dito, durante um bom tempo apenas vislumbrei seu pescoço comprido e lindo.
Já era noite, o céu estava estrelado, a lua cheia me falava "vai até ela", estávamos entre a multidão de frente ao palco principal, e nele subia o Capital Inicial, que com seus sucessos, faziam todos ao nosso redor pular e cantar, eu também para soltar meu nervosismo, precisava encontrar meu equilíbrio e chegar nela, nem que fosse com um “oi”, ou qualquer bobagem, precisava falar com ela. E fui.
Durante os versos de "depois da meia noite" me aproximei cantando ao seu lado, você me olhou com aqueles olhos intensos e verdes, tão verdes que exalavam paz e ao mesmo tempo inquietação, seus olhos semicerrados encontraram os meus, a música alta,  as vozes e os timbres sumiram. O silêncio do momento criou um universo paralelo, apenas ela e eu, duas vias que se cruzavam, dois olhares conectados éramos o “nós” outra vez.

Sua mão encontrou a minha, os dedos entrelaçaram, os lábios sorriram e a nossa música tocava, apertei sua mão e ao longo dos minutos ficamos ali, de mãos dadas, lado a lado até o show acabar e você me soltar.
Naquele momento eu tinha certeza, esperança e ilusão...
Antes de o show seguinte começar, você ficou conversando com suas amigas e eu com a minha, que me chamou de trouxa por não ter beijado, abraçado ou feito qualquer ato que demonstrasse afeto. De fato me sentia trouxa, mas nossos olhares se encontraram novamente e eu sabia que teria mais uma chance.
Ilusão.

Quando começou o show de 30 Seconds to Mars me aproximei de suas costas, minha respiração estava lenta. Dei um beijo no seu pescoço, procurei sua mão mais uma vez e não achei.
- Eu não quero te machucar, não podemos ficar mais juntos...
Suas palavras entraram e sangravam em meus ouvidos, de certo retruquei e falei qualquer coisa que culminava em me humilhar, implorar e pedir para voltar (como já havia feito por voz, carta, mensagem).
Mas de nada adiantou, algumas gotas de chuva começaram a cair, o céu não parecia mais tão estrelado assim. Me afundei no meio da multidão chorando e soluçando enquanto cantava as canções.
O fim certo, proclamado se concretizou. A nossa história não era de amor, mas sim de desamor.

* Pamella Scramin, tem 27 anos, é jornalista. 
criadora do blog Minuto Tech e sonha em ser
escritora de ficção ou de textos emos mesmo.

13 comentários

  1. E eu achando que teria um final feliz...
    Lindo o texto e eu imaginei tudo, inclusive o sofrimento.
    MEU AMOR PELOS LIVROS
    Beijos

    ResponderExcluir
  2. "precisava ser um sinal, uma forma não verbal de dizer que o nosso infinito ainda estava vivo." Gente... Lindo!

    Nem sempre é amor, pode ser desamor e ainda assim precisamos de esperanças!

    Lindo!

    ResponderExcluir
  3. Olá, tudo bem?

    Que texto incrível! Senti tudo como se fosse eu que tivesse passando! Apesar de ser desamor, a esperança sempre tá com a gente. E isso é bom.
    Parabéns pelo texto.


    Beijos
    Laneh Martins
    http://livrosetalgroup.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  4. Oi, Ani e Pamella
    Que triste, hein! No fim sempre somos trouxas, sempre temos esperança rs
    Mas não é algo ruim ter esperança...

    Blog Livros, vamos devorá-los

    ResponderExcluir
  5. Oioi
    Não sou muito fã de histórias românticas, mas de qualquer forma gostei da escrita e da forma como a mensagem foi passada, parabéns.

    ResponderExcluir
  6. Olá,

    A esperança é um sentimento bem antagônico, porque num momento de dor pode ser o alimento que nos dar forças para sobreviver, mas também pode alimentar uma ilusão mais dolorosa que a realidade.

    Beijos!

    ResponderExcluir
  7. Oi Ani e Pamella,
    Que texto mais amorzinho!
    Se todos os textos emos que você escrever forem assim, continue. HAHAHA
    Parabéns!
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  8. Olá, gostei do texto. É difícil quando chega ao fim, é doloroso e triste ver suas ilusões se desfazendo, mas acontece com tantas pessoas e tantas vezes.

    ResponderExcluir
  9. Olá!

    Como assim o final não é feliz??? Adorei o texto e espero que a Pâmella continue com essa coluna, ela tem uma escrita linda!

    ResponderExcluir
  10. Olá Ani,
    Que texto mais apaixonante.
    Acho que todos nós vivemos muitas histórias de desamores, mas essa partiu meu coração em vários pedaços.
    Espero não viver mais nenhuma história assim.
    Beijos ♥

    ResponderExcluir
  11. Nossa me emocionei com o texto.
    Eu sempre na espera de um final feliz :( Que triste.

    Mas a escrita é muito boa, parabéns!

    ResponderExcluir
  12. Oi!!
    Que texto emocionante, conforme lia achei que o final seria diferente :(
    Mas a gente aprende a superar as coisas né, todos já passamos por isso um dia, parece que o mundo vai acabar que vamos sucumbir em meio a tanta dor, mas um tempo depois percebemos que não só superamos como seguimos em frente.
    Beijão!

    ResponderExcluir
  13. Poxa! Desamor? Pensei que teria um final bem feliz e tudo resolvido. Achei incrível o seu texto porém com várias verdades e situações que envolvem o amor.

    ResponderExcluir

Oi você, que bom que chegou até aqui, não esqueça de deixar um comentário.

- Criticas, duvidas, sugestões são sempre bem vindas!

Obrigada pela visita e volte sempre ;*

Contato: contato@entrechocolatesemusicas.com